Capítulo 11: A Maneira Como Eles Governam

Rodapé: Democracia

Durante meus oitenta anos neste planeta, a observação e a experiência pessoal tornaram extremamente óbvio que a democracia e o Estado de Direito falharam total e universalmente em proporcionar um governo justo e equitativo. Eu certamente não votaria a favor. Mas isso não se deve a nenhuma falha no sistema. [English] [Русский]

Frequentei um ensino médio muito bom, mas nunca consegui me qualificar para entrar em uma universidade. Sou um observador e pensador autodidata. Conseque­ntemente, este discurso não se baseia em nenhuma fonte intelectual que eu tenha lido ou estudado. Baseia-se unicamente no que observei, vivenciei e sofri pessoal­mente durante minha vida, tanto no Reino Unido quanto no Brasil. Portanto, é apenas a minha opinião.

A ilusão da liberdade individual, que a máquina de propaganda capitalista projeta na mente popular, é chamada de "democracia". A suposta segurança desse chamado "governo do povo pelo povo" é bem captada em uma citação popular que parafraseia algo como:

Você pode enganar a maioria das pessoas algumas vezes;
Você pode enganar algumas pessoas na maioria das vezes;
Você pode enganar a maioria das pessoas na maioria das vezes;
Mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo.

Mas a triste verdade é que você não precisa. Tudo o que você precisa fazer para conseguir o que quer é enganar mais da metade das pessoas na época das eleições. E isso acontece no máximo uma vez a cada 4 ou 5 anos (dependendo da suposta democracia ocidental em que você vive). Com sua invencível máquina de propaganda midiática, a minoria da elite capitalista não tem dificuldade em eng­anar pelo menos 50% da população comum durante o breve período que antecede cada eleição.

Mas isso se refere à nossa conhecida democracia representativa — o sistema sob o qual vivemos hoje. Antes de considerar isso, porém, é conveniente analisar sist­ematicamente a democracia direta ou participativa, simples e direta.

Democracia Direta

Democracia é o governo do povo pelo povo. Mas esta definição é incompleta. Ela precisa de qualificação para se tornar significativa. Democracia é especificamente o governo do povo como um todo pelo povo como um todo. Em outras palavras, ela diz respeito a um coletivo, como um clã ou nação. O objeto principal de seu foco é a sociedade, não o indivíduo. Ela reconhece o indivíduo como um conceito, mas apenas como um cidadão genérico: não como um ser senciente único e particular, com personalidade, caráter e perfil de aptidão únicos. A democracia é incapaz de lidar de forma igualitária e justa com seres humanos individuais que são, por natureza, muito diferentes uns dos outros.

A única entidade senciente dentro da sociedade é o ser humano individual real. Um grupo, coletivo ou nação pode ser percebido como tendo um caráter ou personal­idade nacional, o que é conhecido como seu zeitgeist. Mas um zeitgeist não é senci­ente. Toda e qualquer forma de coletivo social não possui consciência individual nem consciência [um senso de certo e errado]. O ser humano individual é o único elemento da sociedade que possui autoconsciência inerente e é capaz de observar, vivenciar e sofrer. Para mim, é moralmente autoevidente que o objeto singular da preocupação social deve ser a experiência, o sofrimento, a sobrevivência, o con­forto e a felicidade de cada indivíduo.

A sociedade é um coletivo que compreende uma grande diversidade de indivíduos. Mas a sociedade não é uma máquina. Ela não possui naturalmente a estrutura rígida e fixa de uma máquina. Ela não exibe naturalmente o comportamento pro­gramado de uma máquina; independentemente de quais várias formas e funções artificiais seus poderes humanos possam tentar impor a ela. Em vez disso, ela tem muito mais a natureza de um fluido em movimento — como um sistema climático, oceanos de correntes, um cardume de peixes que muda de forma ou um murmúrio de estorninhos. Ela não tem controle central. Seu comportamento é governado por leis naturais que governam a maneira como seus componentes elementares inter­agem uns com os outros quando se encontram por acaso. A beleza turbilhonante de seu comportamento global é uma consequência de suas leis fractais naturais oper­ando em escala nanoscópica.

Natureza da Sociedade

Matematicamente, tal fenômeno é conhecido como um sistema dinâmico-com­plexo. E a sociedade humana — de qualquer escala, desde nações modernas com populações de centenas de milhões até o tamanho de uma comunidade antropo­lógica — é um sistema dinâmico-complexo. Como tal, é governado pela natureza de acordo com leis fractais, que orquestram as interações entre cada par de indivíduos em encontro, sempre que tal interação ocorre.

Um comportamento definidor de um sistema dinâmico complexo é que a forma precisa de um evento de grande escala dentro de seu comportamento pode evoluir de acordo com a forma ou formato preciso de uma pequena perturbação remota. Em outras palavras, o muito pequeno pode dar origem ao muito grande.

O exemplo clássico disso é: o fato de uma borboleta em uma ilha carib­enha bater ou não suas asas em um determinado instante determina se um furacão se desenvolverá ou não no Oceano Atlântico algumas sem­anas depois.

Outro comportamento definidor é que elementos individuais [moléculas] de um sist­ema dinâmico complexo podem — e estão — sujeitos a circunstâncias muito difer­entes dentro de suas respectivas localizações ou regiões periféricas. Consequente­mente, os indivíduos, ao percorrerem seus caminhos separados através do tempo, do espaço e da ordem social, podem — e estão — arbitrariamente sujeitos a conjuntos muito diferentes de eventos e circunstâncias sobre os quais cada um tem pouco ou nenhum controle.

A razão pela qual um indivíduo não faz parte da maioria pode ser por ser idoso, enfermo, deficiente ou inepto, ou por estar no lugar errado na hora errada, em circunstâncias desfavoráveis ​​causadas por processos dinâmi­cos complexos na socioeconomia. Sua razão provavelmente não é culpa sua, pois não tem controle sobre ela e não tem escolha sobre como mudá-la.

Os seres humanos são intrinsecamente muito diferentes uns dos outros — em personalidade, caráter e aptidões. Além disso, as observações, experiências e sofrimentos particulares de cada um — enquanto percorre seu caminho único através do tempo, do espaço e da ordem social — são extrinsecamente muito diferentes dos dos outros. O efeito combinado é que os membros individuais de uma sociedade, à medida que são envolvidos em sua dinâmica contínua, são invol­untariamente submetidos a circunstâncias muito diferentes.

Os fluxos e refluxos dessas circunstâncias são, para todos, limitados pelo que se chama de atrator complexo-dinâmico. Eles podem variar enormemente tanto para o mesmo indivíduo quanto para indivíduos diferentes. O atrator para um sistema complexo-dinâmico específico pode ser estável, limitando as excursões desses fluxos e refluxos circunstanciais a limites benignos. Por outro lado, pode ser apenas metaestável, permitindo fluxos e refluxos extremos que eventualmente resultarão na autodestruição do sistema. Qual desses a sociedade humana segue depende unicamente da forma precisa das regras fractais, que governam todos os eventos interativos que ocorrem entre os indivíduos.

O universo é um sistema complexo-dinâmico com estabilidade a longo prazo. Suas regras fractais regulam as interações entre seus menores constituintes. Diz-se que, se a Constante de Estrutura Fina [que determ­ina o grau de interação dos componentes nanoscópicos do universo] fosse apenas ligeiramente diferente de 0,007296075, o universo entraria em colapso, como aludido no filme "UFO Interference (2018)".

Em uma comunidade antropológica natural de até cerca de 150 almas, os indivíd­uos não podem ser nada além de visíveis e transparentes. Todos se conhecem. Consequentemente, é difícil ou impossível mascarar atividades ou intenções cland­estinas — certamente a longo prazo. Em tal situação, os membros da comunidade interagem entre si de forma igualitária, regidos por regras naturais autoevidentes que fazem com que a comunidade como um todo opere de forma igualitária, segu­indo um atrator complexo-dinâmico benigno.

Uma sociedade igualitária do tamanho de uma comunidade antropológica pode se autogovernar por democracia direta. Ou seja, toda a população adulta discute e vota em todas as questões que surgem em relação ao funcionamento da socio­economia da comunidade. A comunidade antropológica é pequena o suficiente para que a democracia direta seja fisicamente praticável — mesmo sem o uso de alta tecnologia.

Não obstante, uma comunidade antropológica opera como um sistema complexo-dinâmico. Como tal, ela se autogoverna inerentemente de acordo com o protocolo autoevidente da consciência humana, que define o envoltório de comportamento dentro do qual as interações humanas binárias podem ocorrer.

Isso é bem captado nas seguintes citações da Bíblia judaico-cristã: "Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você" — Mateus 7:12 e "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" — Mateus 22:39.

Se este protocolo fosse imposto por cada um sobre si mesmo, então a democracia [na verdade, o governo em geral] seria desnecessária e irrelevante. Os antigos sabiam disso:

Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; considera os seus caminhos e sê sábio. Ela, não tendo guia, supervisor ou governante, no verão prepara o seu sustento e na sega ajunta o seu mantimento. — Provérbios 6:6-8

Não obstante, a democracia talvez possa ser útil, em certas ocasiões, em circun­stâncias locais específicas.

Moralidade Democrática

Não obstante, mesmo neste nível idílico básico, a democracia não é perfeita. Agora ficará rapidamente evidente que não é o mecanismo político em si que determina se um sistema de governo é justo e equitativo [ou não]. Seja qual for a questão em discussão, cada indivíduo é livre para votar de duas maneiras.

  1. Ele pode votar de acordo com o que, por meio de consideração honesta e consciente, considera ser do melhor interesse de todos.

  2. Ele pode votar de acordo com o que considera ser do seu próprio interesse [ou do seu eu estendido].

No primeiro caso, ele vota de uma forma que garante que, qualquer que seja o benefício obtido pela maioria, não cause prejuízo a ninguém. No segundo caso, ele está votando egoisticamente. Consequentemente, ele votará de uma forma que pode melhorar apenas marginalmente a vida e o bem-estar dele e dos seus. Mas isso pode muito bem custar a criar um inferno para outros membros de sua com­unidade que, sem culpa própria, se encontram em circunstâncias muito diferentes, sobre as quais não têm controle e das quais não têm escapatória. Portanto, o resultado não tem nada a ver com o processo de votação por prevalência da maioria. Tem a ver unicamente com se o eleitor é, por natureza, inclusivista ou ex­clusivista; benevolente ou egoísta.

Depende também da percepção do eleitor sobre o que é justo ou injusto. Um bom exemplo é quando, quando era bem mais jovem, meu julgamento sobre determin­ado assunto era algo que agora vejo claramente como injusto.

Eu tinha dois colegas chamados Gil e Gum. Gum e eu morávamos a uma curta dist­ância do Pub A. Gil morava a uma curta distância do Pub B. Os dois pubs ficavam em cidades diferentes. Consequentemente, para nos encontrarmos no Pub A, Gum e eu podíamos ir a pé, enquanto Gil tinha que dirigir cerca de 10 km. Para nos en­contrarmos no Pub B, Gil tinha que caminhar um pouco até o pub, enquanto Gum e eu tínhamos que dirigir 10 km. Por favor, certifique-se de que o motorista do dia não consumiu álcool acima do limite legal.

Votei que deveríamos nos encontrar no pub mais próximo de cada amigo em sequ­ência. Isso me pareceu, na época, democraticamente justo. Assim, deveríamos nos encontrar no Pub A na primeira segunda-feira, no Pub A na segunda segunda-feira e no Pub B na terceira segunda-feira e repetir esse ciclo ad infinitum. Isso significava que Gum e eu caminhávamos na primeira e na segunda segunda-feira e compart­ilhávamos uma carona nos carros um do outro na terceira segunda-feira. Mas Gil tinha que dirigir em seu próprio carro até o Pub A nas duas primeiras segundas-feiras e caminhar na terceira segunda-feira. Gil tinha que dirigir os 10 km duas vezes a cada ciclo de 3 semanas, enquanto Gum e eu só dirigíamos os 10 km uma vez a cada 6 semanas. Então Gil tinha que dirigir 4 vezes a distância que Gum e eu tínhamos que percorrer.

Gil não concordou. Ele disse que deveríamos nos encontrar no Pub B na primeira e na segunda segunda-feira e no Pub A na terceira segunda-feira. Assim, Gum e eu dirigimos os 10 km até o Pub A na primeira e na segunda segunda-feira, enquanto Gil dirigiu os 10 km na terceira segunda-feira. Assim, cada um de nós dirigiu 10 km.

Se nós três votássemos em nosso próprio interesse, Gil teria que dirigir 4 vezes a distância que Gum e eu dirigimos. Gum e eu teríamos a maioria democrática. Se cada um de nós votasse pelo bem comum, cada um de nós acabaria dirigindo a mesma distância, embora a maioria [Gum e eu] estivesse votando contra nossos próprios interesses]. Esta é a única maneira de a democracia direta funcionar de forma justa. Cada indivíduo deve se beneficiar igualmente de acordo com suas necessidades. Não obstante, se um de nós estivesse em dificuldades e não pudesse pagar o combustível, os critérios para uma votação justa teriam que levar isso em consideração.

É crucial notar que, mesmo com a democracia direta, se a maioria votar de forma egoísta, serão sempre os mesmos indivíduos infelizes que serão penalizados: ou seja, qualquer um que não seja membro da maioria.

Qualificação do Eleitor

Para se qualificar para participar do processo democrático, o eleitor [cidadão] deve possuir a convicção interna de votar de acordo com o que considera justo e equit­ativo. Mas isso não é tudo. Ele também deve ter estudado [considerado e aprendido conscientemente] o que é e o que não é justo. No cenário do pub acima, eu hon­est­amente pensei que, como duas pessoas [Gum e eu] frequentavam o Pub A, então, como a maioria, a maioria das reuniões deveria ser no nosso pub. Eu era moral­mente honesto, mas sistematicamente errado. Eu não tinha a formação política necessária para fazer um julgamento sensato.

A quase total falta de qualificação eleitoral é endêmica nas democracias modernas. Suspeito que a grande maioria dos eleitores forma suas opiniões políticas em meio a uma noite de sexta-feira de cerveja, movidos por pura emoção, sem um pingo de consideração consciente. Consequentemente, pedir ao cidadão comum que vote é como contratar um pedreiro para consertar seu carro ou chamar um contador para consertar um vazamento de água.

Isso não deveria ser surpreendente, considerando a forma como a indústria evoluiu. Sou programador. Quando eu era jovem e estava me candidatando a um emprego, era entrevistado por um programador mais experiente. Conversávamos sobre o assunto por meia hora, e depois ele sabia, por meio de seu próprio julgamento qualificado, se eu estava ou não à altura da vaga. Anos depois, quando eu estava no lugar do entrevistador, fazia o mesmo. Durante a década de 1970, tudo mudou. Então, quando entrevistado para um emprego, eu era atendido por uma jovem do departamento de recursos humanos que não sabia distinguir uma linha de código de uma pata de boi. Ela me aplicava um teste de aptidão, no qual eu invariavel­mente era reprovado miseravelmente. O teste de aptidão era um padrão da indúst­ria desenvolvido por programadores experientes? Não, por uma empresa de psicó­logos, que provavelmente também não conseguia distinguir uma linha de código de uma pata de boi.

Tomadores de decisão desqualificados são cada vez mais a norma. São meros gestores, sem experiência e provavelmente sem o conhecimento e as habilidades necessárias para a função para a qual estão "avaliando" o entrevistado. Sempre foi assim com o eleitor democrático. Ele não sabe nada — profissionalmente ou não — sobre as questões que surgem na governança de uma socioeconomia.

Sociedade Moderna

Não importa o quão "avançada" ou "civilizada" a sociedade moderna tenha se tornado, ela ainda é fundamentalmente um sistema complexo e dinâmico. Embora os governos tentem impor à força estruturas e regulamentações artificiais à socie­dade, as leis da física não são ridicularizadas. Eles farão o que querem, tudo o que querem e nada além disso. A única diferença é que essas leis imutáveis ​​da física fazem a sociedade operar de um modo diferente, que inevitavelmente não é tão benigno quanto o natural.

De fato, o modo como a sociedade moderna é flagrantemente vista operando é, para a maioria, tudo menos benigno. Ela concede saúde, riqueza e felicidade aos exigentes, relegando os humildes à miséria e à fome, enquanto mantém a maioria média em um caldeirão agitado de incerteza econômica carregada de estresse. O fato de a sociedade ainda funcionar, e não ter entrado em colapso total, é uma testemunha incontestável da incrível resiliência dos sistemas naturais complexos e dinâmicos.

Como um sistema complexo-dinâmico, a única maneira de compreender a socie­dade moderna é observá-la e analisá-la do ponto de vista de seu elemento ou mol­écula básica; ou seja, o indivíduo. Mas esse "cidadão genérico" da sociedade mod­erna vive na ilusão fabricada, continuamente alimentada em sua mente pela grande máquina de manipulação. Para entender como a sociedade moderna real­mente se comporta em relação ao "cidadão genérico", precisamos contornar sua ilusão para adquirir uma visão puramente sistêmica.

Então, qual é exatamente a estrutura e o funcionamento do regime que é artificial­mente imposto à complexa dinâmica natural da sociedade moderna? É autocracia, teocracia, oligarquia, plutocracia, timocracia, democracia ou o quê? É uma mistura incômoda de tudo isso. Acho que "totalitarismo corporativo" é provavelmente o melhor termo descritivo para isso. Ou seja: totalitarismo operando por meio de uma infinidade de instâncias de um mecanismo ofuscante conhecido como sociedade anônima de responsabilidade limitada ou persona legalis.

Em uma sociedade moderna, o indivíduo não possui os recursos necessários e sufi­cientes para transformar seu próprio trabalho em suas próprias necessidades vitais. Há muito tempo, ele foi destituído à força desse direito individual inato e auto­evidente. Consequentemente, ele deve servir a alguém que possua tais recursos, em troca de suas necessidades vitais. E, na sociedade moderna, esse "alguém" é invariavelmente uma persona legalis — um psicopata artificial legalmente formul­ado.

Uma persona legalis é uma estrutura hierárquica de comando e controle, que forma uma estrutura padrão, dentro e sobre a qual se constrói uma máquina socioeco­nômica produtora de necessidades. Uma socioeconomia nacional, portanto, com­preende um fluido simbiótico complexo e dinâmico, cujos elementos componentes [moléculas] são personae legales.

Elas variam bastante em tamanho e poder econômico. Na verdade, podem variar do tamanho de pequenas empresas familiares a gigantes multinacionais. Embora algumas dessas pequenas empresas "atendam" o público diretamente, a maioria opera como meros fornecedores satélites de bens e serviços terceirizados para seus "clientes" gigantes, dos quais dependem para sua própria existência.

Enquanto a natureza impõe um limite estrito ao tamanho de átomos e moléculas, a sociedade humana não impõe tal limite autoimposto ao tamanho de uma persona legalis, exceto por leis antitruste em grande parte ineficazes que entram em vigor apenas quando necessário para evitar um monopólio perigoso. Mesmo assim, quando fragmentados, esses fragmentos são geralmente controlados pela mesma camarilha de humanos, o que significa que, sistematicamente, nada mudou.

Assim, a persona legalis é o verdadeiro cidadão livre da sociedade moderna. Mas é uma entidade não senciente, sem consciência e com um modus operandi psicopát­ico, cujo objetivo singular é maximizar o lucro, maximizando a receita e minimiz­ando os custos — independentemente das consequências colaterais de disparidade, estresse e miséria sofridas pelos seres humanos sencientes que ela arbitrariamente escraviza ou exclui.

Uma persona legalis tem a forma lógica de uma pirâmide composta por camadas de autoridade. A camada inferior contém trabalhadores, que são controlados por camadas sucessivas de supervisores e gerentes acima deles. As camadas dimin­uem de tamanho de baixo para cima, com cada camada sucessiva contendo menos indivíduos. A camada superior contém um conselho de administração, acima do qual está o diretor-gerente ou presidente da empresa. O comando e o controle flu­em para baixo na pirâmide, com um fluxo ascendente de obediência e deferência.

A persona legalis, portanto, tem a forma e a função de um reino antigo. É um regime autoritário no qual a democracia não tem lugar. A única diferença é que o "servo" moderno é livre para mudar de "rei". Mas ele não tem garantia de que qualquer "rei" o aceitará. Nenhuma persona legalis é obrigada a empregar qualquer trabalhador em particular. Ele pode se ver rejeitado e destituído, como aconteceu com o antigo servo para quem o rei não tinha utilidade, impiedosamente abandon­ado para buscar e sobreviver da caridade de seus pares.

Ao contrário da própria sociedade, a persona legalis não é um sistema complexo e dinâmico: ela tem a forma e a função de uma máquina. Seus componentes human­os são como os órgãos de um corpo, cada um desempenhando sua própria subfunção especializada dentro do todo. Como o motor, a caixa de câmbio e as rodas de um carro. Ela consome mão de obra, materiais e energia e expele prod­utos vendáveis ​​e resíduos, externalizando todos os problemas sociais, de infraestr­utura e de poluição colaterais para a sociedade em geral. É um "cidadão" egoísta e desagradável.

Uma persona legalis é legalmente uma pessoa, com os mesmos direitos e obrig­ações de qualquer cidadão humano. Não obstante, obviamente não é um ser hum­ano senciente, com sentimentos e consciência. Chamá-la de "pessoa" é, portanto, enganoso. Pode ser entendida com muito mais precisão como um transdutor legal por meio do qual seres humanos reais podem operar coletivamente sob proteção especial [responsabilidade limitada], isentando-os de total responsabilidade por suas ações. Isso os permite operar com um grau substancial de impunidade.

Como disse Lord Thurlow: "As corporações não têm corpos para serem punidos, nem almas para serem condenadas; portanto, elas fazem o que querem." — Extratos Literários de John Poynder (1844).

É claro que a persona legalis não tem corpo nem alma. É apenas uma máquina — uma máquina de transdução abstrata fabricada a partir de declarações legais. Ela atua como um isolante moral, permitindo que diretores e acionistas perpetuem, com a consciência tranquila, a carnificina socioeconômica da disparidade e da pob­reza sobre as pessoas comuns; assim como o arquétipo do bombardeiro americano que obedientemente puxa a alavanca para fazer chover napalm que queima os corpinhos das crianças vietnamitas indefesas que gritam lá embaixo.

Como "pessoa", o status de uma persona legalis é o de um escravo cegamente ob­ediente, que é totalmente propriedade de seus acionistas. Suas estratégias oper­acionais são formuladas por seus diretores, que também têm a responsabilidade legal por elas. Suas operações diárias são orquestradas por gerentes, cujo chefe é o CEO [Chief Executive Officer]. Estes são funcionários como todos os seus outros agentes humanos. Os funcionários não fazem parte da persona legalis em si. São meros recursos contratados no mercado aberto.

Além de atuar como um transdutor moralmente isolante, a persona legalis também funciona como um amplificador econômico imensamente poderoso da mente e do corpo do CEO — assim como o antigo reino era um poderoso amplificador bélico da mente e do corpo do rei como meio de realizar suas ambições. No caso da persona legalis, contudo, é a vontade dos acionistas, filtrada, cristalizada e representada pelo conselho de administração, que é amplificada e executada.

Consequentemente, o modus operandi de uma persona legalis é o de uma democr­acia representativa. Os diretores, que representam os acionistas, formulam políticas que refletem a vontade coletiva dos acionistas. Mas apenas uma minoria de acion­istas, porque apenas uma minoria deles tem direito a voto. Assim, embora todos os acionistas — incluindo a maioria que não pode votar — forneçam o capital da persona legalis, apenas uma minoria deles pode eleger, ou influenciar de alguma forma, seu conselho de administração. É como uma democracia representativa parcial com uma subclasse majoritária desfavorecida.

Por causa dos tipos de personalidade daqueles que inevitavelmente acabam em tais posições, essa "democracia representativa" corporativa rapidamente se transforma em uma autocracia dominada por um diretor administrativo exigente cercado por um conselho de bajuladores que explorarão seus acionistas tanto quanto seus funcionários.

Nessa analogia, o CEO e sua hierarquia de gerentes poderiam ser considerados uma espécie de "serviço público", que comanda e dirige a força de trabalho em seu trabalho e garante que a persona legalis em si não viole as leis que limitam a extensão em que lhe é permitido explorar e abusar de seus trabalhadores. O CEO, os gerentes e os trabalhadores não fazem parte de forma alguma dessa "democra­cia representativa" corporativa.

A persona legalis é, portanto, a gaiola na qual o indivíduo senciente — como ele­mento ativo de uma sociedade moderna — é envolto, aprisionado e constrangido. Como esse recipiente artificial altera sua situação dentro de seu ambiente socio­econômico — seu mundo exterior — em relação ao que seria se ele fosse um indiv­íduo livre dentro de uma sociedade humana natural e aberta? A diferença é que, ao contrário da propaganda política moderna, ele não é livre: ele é um escravo.

Ele não tem o direito alodial de aplicar unilateralmente seu trabalho e habilidades à sua justa parcela dos recursos biosféricos de seu planeta para produzir suas pró­prias necessidades e luxos de vida. Se tentasse, seria impedido à força, processado criminalmente e punido sob as leis do Estado. Consequentemente, para suprir suas necessidades vitais, ele não tem escolha a não ser se candidatar a um emprego, que, quase invariavelmente, estará disponível para ele apenas por meio de uma persona legalis.

Personae legales não têm absolutamente nenhuma obrigação, individual ou colet­iva, de empregar um indivíduo específico. Além disso, não têm obrigação de prestar contas dos motivos pelos quais se recusam a empregar um indivíduo específico, nem mesmo de manter registros dos pedidos de emprego que lhes são feitos. Por outro lado, qualquer indivíduo desempregado, sob ameaça de destituição imposta pelo Estado, é legalmente obrigado a procurar emprego todos os dias e a com­provar, quinzenalmente, que o fez.

O poder de um Estado de deixar qualquer indivíduo destituído é uma violação flagrante do Artigo 25 da Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas, feita em 10 de dezembro de 1948.

Assim, o indivíduo só tem permissão para aplicar seu trabalho de forma lucrativa pela condescendência arbitrária de uma persona legalis, que não responde a ninguém se lhe nega esse "privilégio" vital. Portanto, se um determinado indivíduo é escravo ou vagabundo, isso fica ao critério daqueles que controlam as personae legales de uma nação. Portanto, se ele tem a sorte [e é exatamente isso] de ser empregado dentro da estrutura de uma persona legalis, como seu mundo se apresenta de onde ele se move, fica em pé ou senta em seu trabalho?

Um empregado não possui nada do planeta em que nasceu. Consequentemente, ele não possui recursos pelos quais seja livre para transformar seu trabalho em suas necessidades vitais. Para sobreviver, ele deve, portanto, servir a um dos poucos que o fazem. Ele deve servir a um senhor. Ipso facto, ele é um escravo. O fato de ser pago em dinheiro e não em espécie é irrelevante: ele ainda é um escravo. O fato de ser livre para mudar de senhor também é irrelevante: ele ainda deve servir a um senhor para viver. Um empregado é um escravo.

Uma criança depende de um dos pais. Um escravo depende de um senhor. No grego antigo, a mesma palavra παῖς era usada para criança e escravo. Um depend­ente — especialmente uma criança — não é necessariamente obrigado a trabalhar para se sustentar. Antigamente, um παῖς [criança ou escravo] era considerado pro­priedade de seu pai ou senhor. Hoje, uma criança ou empregado não é propriedade de seus pais ou empregador. No entanto, para exercer seu direito à vida, um em­pregado tem a obrigação de trabalhar. Consequentemente, seu trabalho é propri­edade de seu empregador.

Assim, na sociedade moderna, todos nascem com uma dívida de trabalho vitalícia. O Estado [esperançosamente] reconhece seu direito à vida, que se baseia em sua necessidade biológica de alimentação, vestuário e abrigo. Para isso, a lei do Estado o obriga a procurar emprego, impondo-lhe assim uma dívida de trabalho vitalícia. Consequentemente, para ter direito à vida, ele deve, se lhe for permitido, pagar essa dívida de trabalho a quem, de tempos em tempos e sem obrigação, se dignar a empregá-lo.

Não obstante, não é o próprio sistema corporativo que determina se o funcionário se sai bem ou mal: é a política de quem está no controle. Como um pai ou um antigo mestre, uma persona legalis pode ser generosa ou mesquinha com seus funcionários. E é isso que determina se o funcionário se sai bem ou mal. Mas uma persona legalis é legalmente obrigada a priorizar os interesses de seus acionistas, maximizando o lucro, maximizando a receita e minimizando os custos. E os funcionários são um custo.

Uma persona legalis, portanto, sempre pagará aos seus funcionários o mínimo que puder: o mínimo que as forças de mercado e a legislação trabalhista permitirem. E como o mercado de trabalho é sempre um mercado comprador, o funcionário sem­pre se sairá mal.

Assim, acima dele, o funcionário vê seu gerente, que lhe diz o que fazer. Na minha experiência, com o tempo, esse gerente se torna cada vez mais, senão totalmente, ignorante das habilidades, conhecimentos e tecnologias do trabalho do funcionário. Ele apenas "gerencia". Abaixo dele, nada mais é do que o vazio do desemprego, no qual ele cairá se circunstâncias absolutamente fora de seu controle o tornarem "redundante". Ao seu lado estão seus colegas de trabalho. Eles não têm mais poder do que ele. Ele pode conversar com eles, mas apenas sobre assuntos relacionados ao trabalho ou trivialidades, como "vida e futebol". Eles são, todos eles, mantidos isolados e ignorantes sobre o funcionamento da persona legalis que os emprega.

Assim, do ponto de vista do empregado, a persona legalis é total e abertamente autoritária. Não é de forma alguma democrática. E é o elemento central de todas as socioeconomias ocidentais. É o que governa e domina a vida das pessoas. E é tratada, por lei, como uma pessoa — assim como qualquer membro humano da população. Mas é muito mais poderosa e influente. Coletivamente, portanto, as personae legales são supercidadãos que são sempre e inevitavelmente capazes de dominar o cenário político de sua nação.

Em qualquer disputa entre um cidadão humano e uma persona legalis, esta última pode arcar com uma representação legal muito superior e não é prejudicada pelos custos legais. Por outro lado, o cidadão humano não pode, na maioria dos casos, arcar com qualquer representação legal e, sem dúvida, estaria financeiramente arruinado se contratasse uma persona legalis no tribunal. Consequentemente, a persona legalis pode, na maioria dos casos, infringir a lei impunemente. Trata-se simplesmente de uma avaliação de risco/benefício para determinar se a proporção de ocasiões em que é pego e levado à justiça é compensada pelo lucro extra obtido, no geral, com sua violação da lei.

Naturalmente, o coletivo de personae legales gostaria que sua nação fosse govern­ada de acordo com um modelo autoritário de governo à sua maneira. Mas tal mod­elo de "capitalismo sem válvulas de segurança" só poderia ser mantido à força por um regime autoritário extremo e, mesmo assim, apenas por um curto período, antes que a agitação social explodisse em insurreição aberta. A única solução é fornecer válvulas de segurança socioeconômicas e iludir a vasta maioria de que está de fato no controle.

Isso é realizado por meio de um sistema chamado "Democracia Representativa", que fornece o nível mínimo necessário e suficiente de serviços sociais para manter o bem-estar de uma maioria suficientemente grande da população, um pouco acima do limiar da insurreição social.

Democracia Representativa

Nas chamadas "democracias" modernas, o cidadão comum não tem permissão para votar em questões específicas. Sua única prerrogativa "democrática" é votar em qualquer uma das duas ou três personalidades políticas que desejar que o repre­sente e a seus interesses em uma assembleia ridiculamente pequena de indivíduos que votarão em questões específicas em seu nome. Se o representante em quem votou não for eleito, seus interesses serão representados nessa assembleia por alguém cujas opiniões são provavelmente opostas às suas. Portanto, como indiv­íduo, ele não é representado adequadamente.

Além disso, a pessoa que o representa invariavelmente pertence a uma minoria de advogados de classe alta a média, com formação de elite. Suas rendas, estilos de vida e conexões sociais os isolam cultural e economicamente da maioria daqueles que governam. Eles não têm um contexto comum de experiências de vida que per­mita compreender a situação dos pobres e desempregados. Isso se aplica até mesmo àqueles que podem ter origem na classe trabalhadora. Como indivíduos, eles não estão mais imersos em um contexto de classe trabalhadora. Este não afeta mais suas vidas cotidianas. Todas as intrincadas ramificações cotidianas de suas dificuldades e restrições evaporam rapidamente de suas memórias.

Além disso, é muito improvável que pessoas de origem da classe trabalhadora tenham os recursos e as conexões sociais para se candidatarem a cargos políticos. Também é pouco provável que consigam reunir recursos financeiros para organizar uma campanha eleitoral para se tornarem deputados.

O Processo Eleitoral

A cada 4 ou 5 anos, dependendo da democracia ocidental em que residem, todos os cidadãos votam em políticos para representá-los no governo do país. Cada cida­dão escolhe o representante desejado entre dois ou mais candidatos que lhe são oferecidos. Os diferentes candidatos são membros de diferentes partidos políticos, cada um dos quais promulga diferentes visões políticas e propostas socioeconômi­cas. Cada candidato é eleito por um número relativamente grande de cidadãos.

Um país democrático é dividido em pequenas áreas geográficas, às quais me referirei como círculos eleitorais. A população de cada círculo eleitoral vota em um candidato que a representa e representa seus interesses políticos perante o gover­no. O candidato de cada círculo eleitoral que recebe a maioria dos votos torna-se o representante no governo de todos os eleitores de seu círculo eleitoral.

O partido político com a maioria dos representantes eleitos governa o país por um mandato de 4 a 5 anos até a próxima eleição.

Representação Desproporcional

Nem todos os distritos eleitorais abrigam o mesmo número de pessoas. Consequ­entemente, alguns representantes representam muitas pessoas, enquanto outros representam apenas algumas. Os distritos eleitorais com grandes populações são predominantemente áreas industriais, onde a maioria é composta por membros da chamada "classe trabalhadora". Aqueles com pequenas populações são predomin­antemente áreas rurais e áreas de deslocamento diário. Estas áreas abrigam pre­dominantemente proprietários de terras, agricultores e trabalhadores que se des­locam diariamente.

Como resultado, há mais pessoas da "classe trabalhadora" por representante do que proprietários de terras, agricultores e profissionais liberais. Estes últimos, por­tanto, são muito mais bem representados no governo do que os trabalhadores. Portanto, é necessário um número muito menor de pessoas da classe alta do que da classe trabalhadora para votar em um governo majoritário. O tipo de governo que melhor atende aos interesses de proprietários de terras, agricultores e pro­fissionais liberais tem, portanto, sempre maior probabilidade de prevalecer.

Além disso, um governo em exercício tem o poder de usar outro estratagema cham­ado gerrymandering para garantir ainda mais sua reeleição. Eles podem ajustar os limites dos distritos eleitorais para aumentar a segregação entre a classe trabalh­adora e as classes altas. Alternativamente, podem redesenhar os limites para dividir as áreas da classe trabalhadora e dividir as concentrações de trabalhadores entre diferentes distritos eleitorais, de modo que se tornem minorias em cada um deles.

Então, como se apresenta esse sistema "democrático" de governo do ponto de vista do elemento básico do oceano complexo e dinâmico da humanidade que chamamos de sociedade; ou seja, do ponto de vista de cada cidadão senciente? Na lista abaixo, mostro a situação predominante, em que o governo em exercício re­presenta os interesses da classe alta/média.

Observação: uso a palavra toff para me referir às classes alta e média de cidadãos, que incluem proprietários de terras, agricultores e profissionais liberais. Uso a palavra pleb para me referir aos cidadãos da classe baixa, chamada de "classe trabalhadora", que inclui os desempregados e os dependentes de assistência social, enfermos, deficientes e ineptos. Meu uso desses termos é apenas para fins de brevidade e não implica qualquer ofensa ou intenção degradante. É como usar uma letra na álgebra como uma abreviação para representar o nome de uma quantidade do mundo real.

  1. Um toff, que vive em um distrito eleitoral com maioria toff, é representado por alguém que simpatiza com suas opiniões e interesses, por um governo que também simpatiza com suas opiniões e interesses.

  2. Um alt, que vive em um distrito eleitoral com uma maioria plebeia, é 're­presentado' por alguém que não simpatiza com suas opiniões e interesses, mas sim com um governo que simpatiza com suas opiniões e interesses.

  3. Um plebe, que vive em um distrito eleitoral com maioria plebe, é repre­sentado por alguém que simpatiza com suas opiniões e interesses, mas com um governo que não simpatiza com suas opiniões e interesses.

  4. Um plebe, que vive em um distrito eleitoral com uma maioria de elites, é 'representado' por alguém que não simpatiza com suas opiniões e inter­esses, em um governo que também não simpatiza com suas opiniões e interesses.

Obviamente, neste caso, a democracia representativa só fornece representação verdadeira para os ricos que vivem em distritos eleitorais ricos, que certamente representam apenas uma pequena minoria da população nacional. Ricos que vivem em distritos eleitorais plebeus não são representados com simpatia. Essa represent­ação, no entanto, é para um governo simpático. Além disso, as normas socioecon­ômicas e a manipulação eleitoral da elite garantirão que esses ricos sejam invari­avelmente uma minoria muito pequena em tais distritos eleitorais. Plebeus que vivem em um distrito eleitoral plebeu podem ser representados positivamente, mas para um governo não simpático. Menos bem representados são os plebeus que vivem em distritos eleitorais ricos, que, como no meu caso, são representados apenas de má vontade para um governo antipático.

Nunca fui representado democraticamente. O deputado da minha região sempre foi um conservador convicto. Suas opiniões são diametralmente opostas às minhas. Sempre que entro em correspondência com ele, re­cebo a típica resposta sem sentido de político, sem valor algum.

Portanto, a democracia representativa está longe do que se poderia chamar de um sistema justo. Ela é inerentemente divisiva. Ela separa as pessoas umas das outras, reunindo-as em facções opostas, favorecendo a maioria e desfavorecendo todas as minorias. Isso cria uma mentalidade adversarial, que eventualmente se transforma em conflito aberto.

Governo de uma Minoria

Assim, um governo que realmente representa apenas uma pequena minoria da população recebe o poder onipotente de promulgar leis que afetam a todos, inclu­indo os pobres e desempregados, por cujas opiniões e interesses não tem simpatia.

Um exemplo é a penalidade do limite de poupança. Aqueles que a pro­mulgaram não têm experiência pessoal de seus efeitos e ramificações na vida de alguém como eu. Eles simplesmente não têm contexto mental para modelar seus efeitos na vida daqueles a quem a impõem à força.

Isto não é democracia. Na melhor das hipóteses, serve ao interesse próprio de uma minoria; na pior, é a admiração ociosa de uma celebridade política. Apesar disso, a elite capitalista sempre conseguiu vendê-la como "verdadeira democracia", na qual o indivíduo despossuído está convencido de que tem liberdade, controle, oportuni­dade e propriedade. Assim, da miséria de sua existência suburbana, o cidadão médio se torna tão convencido de sua liberdade que defenderá vigorosamente e — onde a oportunidade se apresentar — ele próprio praticará os princípios e políticas daqueles que o escravizam.

A democracia "representativa" ocidental não é uma democracia verdadeira. É sim­plesmente um mecanismo para acelerar o que uma maioria iludida vê como seu próprio interesse. É uma Tirania da Maioria. Mas, como a mente dessa maioria é moldada pela máquina de propaganda da mídia de massa de uma minoria de elite, é na verdade uma Tirania da Elite. É o meio deles de subjugar as massas. Isso não é diferente do antigo feudalismo do qual essa "democracia" supostamente nos libertou.

Ignorância Sócio-Política

A democracia é o governo do povo pelo povo. Consequentemente, exige e requer uma população moralmente educada. Só pode ser justa e equitativa quando cada pessoa é igualmente informada e competente nos assuntos que afetam a socie­dade e vota em cada questão de acordo com o que, em sã consciência, julga ser o melhor para o bem comum. Este requisito é escalável: sua funcionalidade básica é a mesma, desde o governo nacional até o condomínio residencial.

A realidade, porém, é que a maioria das pessoas não é especialista em assuntos que afetam a sociedade, e cada um, na verdade, vota de acordo com o que con­sidera que melhor atenderá aos seus próprios interesses pessoais. Assim, a dem­ocracia representativa moderna é o governo do povo por uma maioria egoísta que, em vez de julgar as políticas com responsabilidade, simplesmente segue como ovelhas a opinião política elitista que lhe é vomitada diariamente pela grande máquina de propaganda. O resultado é que, a fim de proporcionar à maioria egoísta a mínima melhoria, qualquer minoria pode, por efeito colateral, acabar sofrendo uma miséria imerecida.

Democracia é um sistema de governo no qual a maioria dos eleitores na maioria dos círculos eleitorais obtém essencialmente o que acha que quer, enquanto aqueles que não se encaixam podem ir comer merda.

Eu citaria novamente o exemplo da penalidade do limite de poupança imposta aos pobres. Ela é vista como uma forma de economizar dinheiro público, o que, por sua vez, é visto como um prelúdio para a redução de impostos para a maioria dos contribuintes. Mas esse egoísmo sempre tem uma visão de curto prazo. De fato, a penalidade do limite de poupança aprisiona os pobres na pobreza, impedindo-os de acumular os meios necessários para sair da dependência da assistência social e voltar à autossuficiência econômica. O contribuinte, portanto, acaba tendo que sustentá-los para sempre. O egoísmo é sempre contraproducente a longo prazo.

Um Instrumento de Disparidade

A sociedade humana atual encontra-se em uma lamentável confusão de opressão, exploração, disparidade e pobreza porque leis artificiais de controle hierárquico foram impostas à força à sua funcionalidade natural de dinâmica complexa por autoridades autoproclamadas e exigentes. Isso desmascara a piada da imprensa popular de direita, que afirma: "Eu tenho um emprego, então se você não tem um: a culpa deve ser sua", o que certamente não condiz com as leis naturais da dinâmica complexa.

Mas por qual mecanismo os poderosos mantêm a disparidade socioeconômica? A resposta é: dinheiro — especificamente, o modus operandi do sistema monetário. Dinheiro: ou mais precisamente, valor monetário, é um paradoxo. Nada mais é do que uma medida arbitrária, de elasticidade caprichosa, usada por aqueles com poder econômico para comparar uma imensa diversidade de semelhantes contra diferentes, em termos de uma única medida universal disfuncional que não tem base ou contrapartida na realidade física.

A observação pragmática demonstra-me claramente que o dinheiro tem pouca ou nenhuma influência sobre trabalho, virtude ou mérito. Pelo contrário, consigo vê-lo implacavelmente acelerando seu propósito indiscutível de concentrar riqueza, gerada por muitos iludidos, nas mãos de poucos desonestos. Se o dinheiro serve de medida para alguma coisa, é simplesmente uma medida de hegemonia, que, a meu ver, não tem moralidade social nem virtude econômica.

Não é Culpa da Democracia

Um rei zeloso ou um ditador benigno governa seu povo com equidade. Um rei per­verso ou um ditador tirânico escraviza seu povo na miséria. Quando cada cidadão de uma democracia vota em políticas que atendem às suas próprias ambições ego­ístas, sem se preocupar com os efeitos colaterais catastróficos que essas políticas podem ter sobre alguns de seus concidadãos, a disparidade reina. Para que a dem­ocracia seja justa e benigna, cada um deve votar em políticas que realmente ac­redita que criarão condições justas e satisfatórias para todos.

No entanto, não é o sistema político, como tal, que os faz votar dessa forma. O povo pode se sair bem ou mal, independentemente de ser governado por decreto ou pela democracia. A culpa está no caráter egoísta de quem governa, seja o rei ou o povo. Sob a democracia ocidental moderna, esse caráter egoísta está incrustado na mente do público pela elite industrial que utiliza a mídia de massa moderna para constantemente alimentar o público com suas próprias atitudes egoístas, trans­formando assim a democracia em oligarquia. E é essa oligarquia que possui e con­trola todos os recursos do planeta, dando apenas àqueles de quem atualmente precisa, os meios para transformar seu trabalho em suas necessidades vitais. Essa oligarquia, portanto, possui e controla o acesso à árvore da vida, que usa para seus próprios fins egoístas.

E isso resultou na confusão socioeconômica total na qual todos nós somos forçados a tentar manter nossas miseráveis ​​existências biológicas hoje.

A Democracia Poderia Funcionar

Mas para que isso aconteça, quatro condições devem ser atendidas.

  1. O controle hierárquico impede o funcionamento das leis naturais da inter­ação humana. Portanto, a regra hierárquica da lei [artificial] deve ser re­movida.

  2. A influência e o poder dos excessivamente exigentes devem ser moderados. Portanto, o tamanho de uma unidade democrática não deve exceder o de uma comunidade antropológica.

  3. Todos devem julgar cada questão visando o bem comum. Qualquer julga­mento deve ser resolvido de forma que nenhum indivíduo seja prejudicado ou oprimido por ele. Isso requer incondicionalmente que cada um deva "amar o próximo como a si mesmo".

  4. Além disso, todos os governados devem ser conhecidos pessoalmente por aqueles que governam. Em outras palavras, todos devem conhecer todos os outros, incluindo suas circunstâncias particulares, pontos fortes, fracos e dificuldades. Todos devem compartilhar um contexto social e econômico comum.

O campo de influência do verdadeiro processo democrático não pode, portanto, estender-se além dos limites da comunidade antropológica natural. Os assuntos intercomunitários devem ser regidos por um protocolo diferente.


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